No início deste ano, o Japão anunciou investimentos de US$ 1,5 bilhão para o desenvolvimento de novas tecnologias na área da energia solar. Esses recursos foram subsidiados à Sekisui Chemical, uma empresa do setor químico do país, que se concentrará na produção de placas solares de perovskita. Esse mineral permite que os painéis sejam até 20 vezes mais finos do que as placas solares convencionais.
A adoção das placas de perovskita é considerada por especialistas uma ótima oportunidade para o setor energético japonês. Devido à formação geográfica montanhosa do país, a instalação de painéis solares em áreas abertas, como pastos, é praticamente impossível. No entanto, painéis mais finos podem ser instalados com mais facilidade em prédios e outras instalações urbanas.
Além de reduzir a dependência do Japão em relação aos combustíveis fósseis, a utilização dessas novas placas também contribui para o objetivo nacional de ter 50% de energia renovável até 2040. Além disso, esse investimento pode desafiar a liderança chinesa no mercado de painéis solares. Atualmente, a China é responsável por 85% da produção de células solares no mundo e também por 79% do polissilício, que é o principal componente desses painéis. Já o Japão é um dos principais exportadores de iodo, matéria-prima essencial para a produção de painéis de perovskita.
Em relação à capacidade instalada de energia solar, em 2022, o Japão contava com 78,83 GW. No entanto, o objetivo é atingir 108 GW até 2030. Para isso, o governo e a indústria local estão trabalhando para implantar cerca de 20 GW de novos sistemas fotovoltaicos de perovskita até 2040.
“Sabe-se que as células de perovskita são de extrema importância para a descarbonização, o crescimento econômico e a segurança energética”, disse Sadanori Ito, porta-voz do governo japonês, em entrevista ao Financial Times.
A expectativa é tão alta em relação a essa tecnologia que a Sekisui Chemical criou uma empresa (com parte do controle acionário do governo japonês) para instalar seus painéis em locais como pontos de ônibus, portos e na própria sede da empresa. Atualmente, cerca de mil funcionários estão envolvidos nesse trabalho.
O governo japonês também está avaliando a possibilidade de disponibilizar recursos financeiros para a construção de cadeias de suprimento sustentáveis e o desenvolvimento das tecnologias relacionadas à produção dos painéis. Isso pode fortalecer a posição do Japão no mercado global de energia renovável.
No entanto, apesar do aumento dos investimentos, a transição energética no Japão ainda enfrenta desafios. De acordo com um relatório da Bloomberg NEF, o Japão precisaria investir US$ 2,2 trilhões até 2034 para alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Em um cenário sem a transição energética, as emissões métricas de CO₂ em 2050 poderiam atingir 1 bilhão de toneladas.
Embora a energia solar tenha ultrapassado a hidroeletricidade como a principal fonte de energia renovável no Japão em 2021, ela ainda fica bem atrás das fontes fósseis. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Políticas de Energia Renovável, as fontes de energia poluentes ainda representam 66% do consumo energético no país.