O Brasil deu um passo estratégico para fortalecer o setor de fertilizantes com a assinatura de um acordo de cooperação técnica entre os setores público e privado. A iniciativa, anunciada durante o 12º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, em São Paulo, visa aumentar a capacidade de produção para mais de 73 milhões de toneladas até 2036, reduzindo a dependência externa e garantindo o abastecimento para a expansão agrícola.
O acordo foi assinado por Guilherme Campos Júnior, Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), e Eduardo de Souza Monteiro, Presidente da Associação Brasileira de Difusão de Adubos (ANDA). O acordo estabelece metas para aprimorar as estatísticas do setor, estimular a inovação e os bioinsumos, gerar conhecimento estratégico e mobilizar recursos para apoiar o crescimento sustentável.

Projetos nacionais em andamento se alinham a essa estratégia. Geraldo Alckmin, Vice-Presidente do Brasil e Presidente do Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição Vegetal (Confert), destacou investimentos em projetos-chave: o Complexo Serra do Salitre, em Minas Gerais, que poderá atender a 15% da demanda nacional de fosfato; a retomada das plantas de nitrogênio da Fafen Bahia e da ANSA Paraná, que devem suprir até 20% das necessidades de nitrogênio do Brasil; e o Projeto Autazes, no Amazonas, focado em cloreto de potássio, que poderá cobrir 20% do consumo nacional. Esses desenvolvimentos são apoiados por medidas legislativas, incluindo o Projeto de Lei 699/2023 (Profert), que propõe incentivos fiscais para a produção de fertilizantes, e o Projeto de Lei 2.022/2022, já aprovado em comissão, que elimina o PIS/Cofins sobre a importação e comercialização de fertilizantes.
Embora a previsão seja de que as entregas de fertilizantes permaneçam entre 48 e 49 milhões de toneladas em 2024/25 — níveis recordes, segundo os analistas Jefferson Souza (Agrinvest) e Carlos Cogo (Cogo Inteligência em Agronegócio) —, especialistas enfatizaram a necessidade de diversificar para além dos volumes importados. As discussões no congresso destacaram o papel da agricultura regenerativa, dos bioinsumos e dos fertilizantes de última geração. José Carlos Polidoro (MAPA), Jenny Wang (Mosaic) e Francisco Matturro (Rede ILPF) enfatizaram a importância da regulamentação da Lei de Bioinsumos para acelerar a adoção de tecnologias de baixo impacto, visando ajudar a restaurar 40 milhões de hectares de terras degradadas até 2036.
A inovação também teve destaque, com soluções de nitrogênio projetadas para reduzir as perdas por volatilização apresentadas como ferramentas-chave para melhorar a eficiência. O 4º Prêmio Carlos Florence, concedido pela ANDA, reconheceu pesquisas da Esalq/USP nessa área.
Especialistas do setor, incluindo Carlos Cogo, Renata Cardarelli (Argus Media) e Gustavo Zaitune (Adufértil), também apontaram para riscos externos. Eles observaram que as tensões comerciais globais e os desafios logísticos criam vulnerabilidades para o Brasil como um dos maiores importadores de fertilizantes. Paralelamente, preocupações com o crédito rural foram levantadas, já que a sustentação do alto consumo exigirá medidas estruturais de financiamento. O pacote de apoio recorde do Plano Safra 2025/26 destaca a necessidade de políticas públicas consistentes para manter a competitividade.
Na sessão de encerramento do congresso, Eduardo Monteiro destacou: “Ressaltamos a importância de discutirmos juntos o presente, enquanto projetamos o futuro. O setor de fertilizantes é parte da solução para o desafio global de produzir alimentos com menor impacto ambiental.”









