Para pacientes com anemia falciforme, a dor é uma experiência complexa e persistente que os médicos frequentemente têm dificuldade em mensurar com precisão. As escalas de dor tradicionais simplificam essa experiência altamente personalizada em um único número, o que levanta questionamentos sobre sua acurácia. Um novo estudo do Grupo de Pesquisa em Neurociência Wood, da Universidade Carnegie Mellon, utiliza uma abordagem centrada no ser humano, aproveitando técnicas avançadas de neuroimagem e ferramentas de visualização digital para investigar os mecanismos pelos quais o cérebro processa a dor, com o objetivo de reduzir a lacuna entre pacientes e médicos na interpretação da dor. Os resultados foram publicados no *Journal of Pain*.

"Os questionários tradicionais apenas arranham a superfície e não conseguem capturar a complexidade da dor da anemia falciforme", disse Joel Disu, primeiro autor do artigo e doutorando em engenharia biomédica. "Queríamos ver o que acontece no cérebro quando as pessoas descrevem a dor de uma forma que reflita mais fielmente sua experiência real." A equipe de pesquisa utilizou um aplicativo de "animação da dor" desenvolvido pelo Dr. Charles Jonathan, da Universidade Emory, que permite aos pacientes descrever suas sensações de dor — como latejamento ou formigamento — por meio de animações visuais, em vez de usar uma escala de dor de 1 a 10.
Os pesquisadores compararam os padrões de conectividade cerebral de 27 pacientes com anemia falciforme com os de 30 participantes saudáveis, utilizando dados de ressonância magnética (RM) de ultra-alta resolução, com foco na rede de modo padrão, na rede de saliência e na rede somatossensorial. Os resultados mostraram uma redução significativa na conectividade dessas três redes nos pacientes, particularmente em regiões cerebrais associadas à emoção, atenção e processamento sensorial. A correlação dos achados de imagem com as escolhas feitas em um jogo de simulação de dor revelou uma forte correlação entre as descrições da dor, como espasmos e formigamento, e as alterações na rede somatossensorial; quanto mais intensa a sensação, maior o grau de disfunção nas regiões cerebrais relevantes. Disu afirmou: "Isso estabelece as bases para o desenvolvimento de biomarcadores objetivos da dor que permitem a observação em tempo real de como a natureza e a intensidade da dor são mapeadas no cérebro."
Esta pesquisa não é apenas inovadora do ponto de vista científico, mas também preenche uma lacuna na comunicação médica. A dor em pacientes com anemia falciforme é frequentemente mal compreendida, o que leva à falta de confiança entre médicos e pacientes. Muitos pacientes optam por controlar a dor em casa por medo de serem ignorados, de incorrerem em custos mais altos ou de serem rotulados como "usuários de drogas". "Nossa pesquisa visualiza um fenômeno há muito negligenciado, validando as experiências dos pacientes com evidências da neurociência de que a dor é real, mensurável e está enraizada na função dos receptores de dor no cérebro", observou Sosena Wood, professora assistente de Engenharia Biomédica da Universidade Carnegie Mellon. A tecnologia de animação da dor foi adotada por diversos grupos de pacientes com anemia falciforme em todo o país, ajudando os médicos a interpretar melhor as experiências de dor dos pacientes. A equipe de Wood também espera explorar ferramentas como realidade virtual e sensores vestíveis para modular ou mesmo reduzir a percepção da dor por meio de estimulação cerebral direcionada.













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