Pesquisadores da União Europeia estão testando ativamente novos queimadores movidos a hidrogênio, com o objetivo de reduzir significativamente as emissões da indústria siderúrgica — uma das maiores emissoras de carbono — sem interromper a produção. No próximo ano, caminhões carregados com hidrogênio chegarão a uma usina siderúrgica em Barcelona para abastecer o programa de P&D TWINGHY, liderado pelo Grupo CELSA. O projeto concentra-se no desenvolvimento de queimadores a hidrogênio para fornos de reaquecimento utilizados na produção de aço, impulsionando o processo de descarbonização do setor.
O Grupo CELSA, um dos líderes europeus em produção circular de aço, utiliza quase totalmente sucata reciclada em fornos elétricos a arco, tornando seu processo produtivo relativamente limpo. No entanto, os fornos a gás natural usados para reaquecimento do aço antes da laminação permanecem como sua principal fonte de emissões. O projeto TWINGHY busca reduzir esse impacto substituindo o gás natural por hidrogênio. “Precisamos reduzir o impacto ambiental da indústria siderúrgica, e os queimadores movidos a hidrogênio são um caminho essencial para isso”, destacou Raquel Torruella Martínez, gerente de projetos da CELSA.
A fabricação de aço responde por 8% das emissões globais de dióxido de carbono — mais que o triplo do setor de aviação — devido principalmente às altas temperaturas geradas pela queima de carvão ou gás natural. O hidrogênio, como energia limpa, libera apenas vapor d’água durante a combustão, sem gerar CO₂. Entretanto, o fornecimento de hidrogênio verde ainda é limitado, especialmente em regiões como a Catalunha. Para lidar com isso, o TWINGHY desenvolveu queimadores híbridos hidrogênio-gás que ajustam de forma flexível a proporção de hidrogênio conforme a disponibilidade de combustível, mantendo uma chama estável. “A flexibilidade é crucial para as empresas siderúrgicas”, afirmou Sébastien Quérat, especialista-chefe em combustão da empresa francesa FIVES.
O projeto também incorpora tecnologia de gêmeo digital, criando uma réplica virtual para simular o desempenho do forno e otimizar a combustão. O Barcelona Supercomputing Center (BSC), utilizando suas capacidades avançadas de computação, desenvolveu modelos de fluxo de gás e calor dentro do forno para prever o comportamento da combustão de hidrogênio. “Isso nos ajuda a aperfeiçoar o design dos queimadores, reduzir emissões e otimizar a transição”, explicou Torruella Martínez.
O projeto TWINGHY conta com apoio do Fundo de Pesquisa para o Carvão e o Aço da União Europeia e visa atingir a produção de aço com emissões quase zero. O hidrogênio é o elemento central, oferecendo um caminho de descarbonização para fornos de alta demanda energética. “Os queimadores híbridos permitem aumentar gradualmente o uso de hidrogênio, enquanto os gêmeos digitais auxiliam no controle e na otimização”, acrescentou Torruella Martínez. O sistema pode ser adaptado a fornos já existentes, prolongando sua vida útil e evitando substituições caras.
Atualmente, a planta da CELSA em Barcelona já instalou queimadores híbridos e aguarda os testes com hidrogênio previstos para o próximo ano. Se os resultados forem positivos, os queimadores poderão chegar ao mercado em 2027. Porém, o sucesso dependerá do fornecimento de hidrogênio verde. “A tecnologia está pronta; a questão é saber se o fornecimento de hidrogênio conseguirá acompanhar”, afirmou Torruella Martínez. Apesar dos desafios, ela segue otimista: “Cada passo nos aproxima de uma indústria siderúrgica mais verde e mais limpa.”















京公网安备 11010802043282号