No início de 2025, o mercado europeu de gás natural mergulhou novamente em turbulência, com os preços atingindo os níveis mais altos em dois anos, colocando pressão contínua sobre empresas, consumidores e governos. Atualmente, o preço de referência do gás natural na Europa, o TTF, está em torno de 47 euros por megawatt-hora (cerca de US$ 14,50 por milhão de unidades térmicas britânicas), abaixo do pico pós-2022, mas ainda aproximadamente o dobro dos níveis pré-crise.

A principal razão para o aumento dos preços é a tensão no fornecimento de gás natural. A partir de janeiro de 2025, a Rússia interrompeu o transporte de gás natural através dos gasodutos da Ucrânia, e o retorno do inverno aos padrões climáticos médios (após dois invernos mais amenos) levou a um aumento significativo na retirada de gás dos armazenamentos. Além disso, a baixa velocidade dos ventos e a insolação limitada na primeira metade de novembro (fenômeno conhecido como "Dunkelflaute") aumentaram o consumo de gás natural em 80% em comparação com o ano anterior, para garantir a estabilidade do fornecimento de energia.

O mercado global de gás natural também está sob pressão. Embora a oferta global de GNL (gás natural liquefeito) deva crescer 5% em 2025, impulsionada principalmente pela expansão das instalações de GNL na América do Norte, a interrupção do fornecimento de gás natural russo através da Ucrânia compensou parcialmente esse crescimento. Os armazenamentos de gás da UE estão cerca de 24 bilhões de metros cúbicos (36%) mais baixos do que no ano anterior, o que elevou ainda mais os preços. Para atingir a meta de encher os armazenamentos antes do próximo inverno, a Europa precisará aumentar significativamente as importações de gás, o que intensificará sua dependência do mercado global de GNL.

Os altos preços do gás natural tiveram um impacto amplo na economia europeia. O aumento dos preços da eletricidade, dos alimentos e da taxa de pobreza energética tornaram-se problemas significativos. Desde 2022, os preços do gás natural para consumidores industriais na Europa têm sido, em média, 30% mais altos do que na China e cinco vezes maiores do que nos Estados Unidos. Alguns setores intensivos em energia foram forçados a reduzir a produção ou até mesmo fechar fábricas, enfraquecendo ainda mais a competitividade internacional da indústria europeia.

Para enfrentar essa situação, a Comissão Europeia e os governos dos Estados-membros adotaram uma série de medidas, incluindo programas de apoio à acessibilidade, obrigações de armazenamento de gás, metas voluntárias de redução de emissões e a criação de um mecanismo de compra conjunta de gás. Apesar dos gargalos na infraestrutura, a Europa conseguiu diversificar o fornecimento de gás natural, evitando escassez física após a redução de 80% no fornecimento de gás natural russo por gasodutos em 2022, graças a uma rede de gás bem estabelecida e instalações de importação de GNL.

Além disso, desde o início de 2022, a Europa (incluindo a UE, Noruega, Suíça e Reino Unido) adicionou cerca de 250 gigawatts de capacidade de geração de energia renovável, reduzindo a dependência do setor elétrico em relação ao gás natural. As vendas de bombas de calor e a melhoria da eficiência energética também ajudaram a aliviar a demanda por gás natural. No entanto, o ritmo de melhoria da eficiência energética desacelerou significativamente em 2024, indicando a necessidade de mais esforços.

Olhando para o futuro, o sistema energético europeu enfrenta desafios significativos. Espera-se que o mercado global de gás natural só se alivie após a entrada em operação de novos projetos de GNL em 2026, mas, até lá, a Europa precisa acelerar a melhoria da eficiência energética, a diversificação do fornecimento e a flexibilidade do sistema elétrico. Contratos de longo prazo e o fortalecimento das parcerias comerciais transatlânticas de GNL também serão cruciais para aumentar a resiliência do fornecimento de gás natural.